A Serra é um dos maiores e mais importantes municípios do Espírito Santo e sua grandiosidade é notada a todo instante, desde as breves agens de quem a vê apenas por seus bairros adjacentes a BR-101 (rodovia que corta o município e liga o norte ao sul do Espírito Santo) como para quem faz parte da sua história, como a jovem Lorraine Paixão, 27 anos, moradora de Central Carapina.
O bairro, atualmente com esse nome, um dia já foi denominado Sossego. Uma ocupação que se deu numa área alagada da Serra. Nascida e moradora do local, Lorraine é uma ativista de causas sociais importantes para o desenvolvimento da comunidade.
A formação do bairro Central Carapina | Foto: Douglas Lynch via Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN)
Com sentimento de gratidão e a proposta de engajar as pessoas que ali residem, ela, juntamente com outras moradoras, desenvolve projetos com causas sociais essenciais. “Tanto o Aya como o Muvuka caminham com os conceitos da identidade negra, o reconhecimento enquanto jovens periféricos e de afirmação de identidade”, descreve.
Aya Foto Narrativas
Além de prestar serviços para pequenos negócios da comunidade na área da comunicação, também oferece oficinas culturais. Os principais eixos de trabalho são: foto, vídeo, narrativas e produção cultural. Esse projeto Lorraine toca com sua companheira Naira Pinudo.
Muvuka Coletivo
Formado por seis meninas moradoras do bairro, ele surgiu a partir da percepção de que a comunidade recebia muitas ações sociais que paravam pelo meio do caminho, justamente porque pessoas de fora do bairro escolhiam o local para iniciar um projeto e depois partiam, sem dar continuidade. “O Muvuka Coletivo, é autônomo, apartidário e que realiza ações culturais dentro do bairro e surgiu dessa percepção de que: eles iam embora”, explica.
O projeto já desenvolveu no bairro iniciativa como: o Favela Criativa; transmissão ao vivo de evento esportivo; e o Bailinho do Sossego, um carnaval alternativo para as crianças da comunidade. Tudo de maneira voluntária e unindo os moradores
No Bailinho do Sossego, por exemplo, foram atendidas aproximadamente 300 crianças, em diversas atividades culturais e de lazer.

Desassossego: histórias e memórias do bairro Central Carapina
O sentimento bairrista de Lorraine, gerou ainda outro fruto de grande importância cultural e sentimento de pertencimento pela localidade: um livro reportagem.
“Central Carapina é o meu primeiro lugar no Mundo. E é por isso que eu resolvi escrever um livro sobre o meu bairro”, esclarece.
Segundo Lorraine, Desassossego é o registro de histórias de moradores antigos e as próprias memórias. “Eu tenho toda uma relação afetiva com esse local, esse espaço. Eu estudei em todas as escolas daqui, participei de diversos projetos sociais aqui do bairro. Eu tenho muitas relações afetivas com as pessoas do bairro e com o local onde eu estou”, destaca.
Realidade X Percepções
“O meu bairro é o meu primeiro lugar no mundo”. Com essa percepção e não alienada aos desafios que Central Carapina enfrenta todos os dias, a jornalista lembra que estar ali e ser quem ela é hoje, são frutos das vivências na comunidade.
“Aqui eu tenho um senso de gratidão. Eu ei pelas escolas do bairro, pelo projeto social mais antigo e importante do bairro, a creche do bairro e todos esses locais onde eu estive contribuíram para formar quem eu sou hoje e onde eu estou hoje”, afirma.
Pelos olhos de Lorraine, Central Carapina é cenário de uma grande história real, com personagens reais, que têm lados positivos, outros nem tanto, mas, que se depender dela, terá um final feliz. “Ele em um milhão de problemas”, afirma, sem ignorar os desafios, mas vê também, que ele é fruto da união de pessoas que o fizeram nascer.
“Aqui existe tranquilidade, acolhimento e muitas vezes, é mascarado por conta desse problema”, lembra, referindo-se ao tráfico de drogas.
O engajamento da jovem com os projetos atuais e os que ainda pretende desenvolver, é fruto do sentimento de gratidão e a perspectiva de deixar para as novas gerações referências positivas e de luta pelo melhor pela comunidade.
“A gente não naturaliza esse tipo de realidade, mas é a nossa realidade que a gente precisa conviver. A gente vai sair daqui? Para onde a gente vai?”, finaliza a jovem com perguntas que geram reflexão.
Créditos (Imagem de capa): Aya Fotonarrativas
Comentários: y4w4n